100 anos de Nilton Santos: a “Enciclopédia do Futebol” de A a Z
Ídolo do esporte completaria seu centenário de nascimento neste dia 16, e o ge reuniu lembranças do lateral-esquerdo que está eternizado no mundo da bola
100 anos de Nilton Santos: a “Enciclopédia do Futebol” de A a Z
Nilton Santos completaria 100 anos neste 16 de maio. Ídolo do Botafogo e da Seleção Brasileira, o lateral-esquerdo morreu em 2013, depois de ter revolucionado o futebol com talento, inteligência e personalidade. Relembre sua história, curiosidades e legado de A a Z da trajetória da “Enciclopédia do Futebol”, preparada pelo ge.
Nilton chegou antes de Garrincha ao Botafogo e teve a missão de marcá-lo em seu teste, em 1953. Os dois ficaram amigos e era com ele que o lateral-esquerdo dividia as concentrações, as dificuldades fora de campo e as alegrias dentro das quatro linhas. O ídolo definia sua relação Garrincha como um “amor fraternal”, de irmão mais velho.
Nilton Santos foi fiel ao seu clube do coração e nunca trocou as cores preta e branca, a não ser quando vestiu a amarelinha com a Seleção Brasileira. Ele jogou de 1948 a 1964 no clube, somando 17 anos dedicados à sua paixão e 729 partidas. Entre os 20 títulos conquistados com a estrela solitária no peito, estão quatro campeonatos cariocas (1948, 1957, 1961 e 1962), dois torneios Rio-São Paulo (1962 e 1964) e um torneio municipal (1950).
“Queria parar também porque, com a idade, toda a vez que o Botafogo se saísse mal numa partida, haveria sempre alguém lembrando que eu estava com 39 anos” – escreveu Nilton Santos, em sua autobiografia “Minha Bola, minha vida”.
Nilton Santos conquistou duas Copas do Mundo pelo Brasil, em 1958 e 1962, mas foram quatro participações na principal competição do mundo – somando os anos de 1950 e 1954. Foram 75 partidas e três gols pelo Brasil. Sim, apesar de lateral-esquerdo, o pé dominante de Nilton Santos era o direito. Seus lançamentos e cruzamentos na maioria das vezes eram feitos com o pé direito. É verdade que ele também usava a canhota para apoio em dribles, uma de suas características, e por isso ele se considerava ambidestro. Mas domínio, passes e cruzamentos eram elaborados com o pé oposto. O ídolo ficou conhecido como a “Enciclopédia do futebol” por todo seu profundo conhecimento técnico e tático, por ser um jogador completo, com ampla visão de jogo. O entendimento de futebol de Nilton Santos foi considerado fundamental para a conquista do bicampeonato mundial pelo Brasil em 1958 e 1962 e para diversos títulos do Botafogo nos anos 50 e 60. Nilton Santos foi o retrato da fidelidade no futebol. Em uma época em que era comum jogadores trocarem de clube por melhores propostas, ele defendeu apenas duas camisas em toda a carreira: a do Botafogo e a da Seleção Brasileira. Jamais jogou por outro time, nem mesmo no fim de carreira, mantendo a mesma paixão até o último dia como jogador. Depois, se dedicou à vida de treinador em outro clubes de menor expressão, mas enquanto atleta, foi fiel ao Alvinegro. Na Copa de 1958, Nilton Santos marcou talvez o gol mais bonito de sua história. No jogo com a Áustria, o técnico do Brasil na época, Vicente Feola, viu seu defensor avançar e gritou “Volta, Nilton”. O lateral, porém, fingiu não ouvir, se lançou à frente e marcou um golaço. “Eram cinco minutos do segundo tempo, e o Brasil segurava-se num tímido 1 a 0. Nilton Santos dominou a bola em seu campo e partiu com ela. Na intermediária da Áustria, soltou-a para Mazzola e pediu de volta. Recebeu a devolução na frente e, da entrada da área, encobriu o goleiro Szanwald com grande classe. Era o segundo gol”, escreveu Ruy Castro no livro ‘Estrela Solitária, a biografia de Garrincha’. O Brasil venceu por 3 a 0.
Dentro e fora de campo, ele colecionava momentos. E era um contador nato, gostava de relembrar bastidores de Copas, lembranças com Garrincha e até histórias das pescarias na infância. Seu bom humor e memória afiada o tornaram uma figura querida também depois de pendurar as chuteiras.
O ídolo nasceu e se criou em Flexeiras, na Ilha do Governador, que fica no interior da Baía de Guanabara e integra a Zona Norte do Rio de Janeiro. Quando criança e adolescente, ajudava sua família no sustento de casa pescando. Mas, aos 23 anos, tardiamente para os padrões, encontrou o futebol ao ser visto jogando por um oficial da Aeronáutica enquanto estava no serviço militar, e foi levado ao Botafogo.
Nilton Santos sempre jogou por amor à camisa, e isso foi algo dito por ele mesmo. Ele sabia que não era remunerado à altura porque sua única preocupação era jogar futebol. E o valor de seus contratos era deixado em segundo plano. Com isso, chegou a assinar documentos em branco, deixando para que os dirigentes colocassem seus vencimentos. Em um jogo da Copa de 1962, contra a Espanha, na fase classificatória, Nilton Santos usou uma malandragem que salvou o Brasil. O jogo estava 1 a 0 para os espanhóis quando, em um lance dentro da área brasileira, na hora de cortar a bola, ele derrubou o adversário dentro, fazendo um pênalti que daria a chance do rival ampliar o placar. Porém, o brasileiro foi ágil. Logo após o lance, deu dois passos para fora da área, o que induziu o árbitro a marcar falta, não pênalti. O Botafogo homenageou um de seus maiores ídolos dando nome ao estádio. Em 2017, o Engenhão deixou de ser João Havelange para dar lugar a estádio Nilton Santos, que também é carinhosamente chamado de “Niltão”.
O lateral virou ídolo do Botafogo, mas virou um símbolo do futebol brasileiro. Com seus feitos em campo e ousadia, tornou-se referência para gerações. E até mesmo entre torcedores rivais: o Flamengo o homenageou em seu jogo de despedida, em um clássico em 1964. Era comum ser aplaudido nas arquibancadas, independentemente de onde fosse. Suas atuações em Copas do Mundo e sua postura fora de campo fizeram dele um patrimônio do esporte, se tornando um atleta que orgulhava o Brasil.
Foi um dos – se não o primeiro – laterais a se lançar à frente e explorar o corredor lateral para apoiar o ataque. Sua ação encorajou outros jogadores a fazerem o mesmo, o que revolucionou essa posição, antes muito presa apenas à defesa, no futebol. Poucos jogadores na história do futebol disputaram quatro Copas do Mundo. Nilton Santos é um deles. Atuou nas edições de 1950, 1954, 1958 e 1962 — sendo campeão nas duas últimas. A longevidade em alto nível com a Seleção o colocou entre os maiores nomes da história do futebol brasileiro. Além dele, Pelé, Djalma Santos e Castilho também estiveram em quatro competições mundiais.
Nilton Santos foi e continua sendo um verdadeiro xodó dos botafoguenses. O carinho atravessou gerações, mesmo após sua aposentadoria. Ídolo presente em eventos, estádios e homenagens, foi eternizado com uma estátua e teve seu nome dado ao estádio do clube.
Apesar de tantas glórias, Nilton Santos também conheceu de perto as “zebras” no futebol. Uma das mais marcantes foi a eliminação na Copa de 1954, para a Hungria, na chamada “Batalha de Berna”. Em um jogo tumultuado, com expulsões e confusões, o Brasil caiu nas quartas de final, em uma das derrotas mais doídas da história da Seleção.