O Artilheiro Comentarista
Gestão Esportiva na Prática: Entre o resultado e a vergonha: O preço dos 3 pontos

Gestão Esportiva na Prática: Entre o resultado e a vergonha: O preço dos 3 pontos

Resultados de jogos podem influenciar na reputação de atletas (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

No futebol e na vida, a obsessão pela vitória imediata tem custado mais do que reputações: tem comprometido valores.

O futebol é o espelho mais fiel da sociedade brasileira — não só em sua paixão, mas em suas contradições. Dentro das quatro linhas, tudo parece valer pelos três pontos. E, fora delas, essa lógica contamina discursos, decisões e até a ética.

Reputações são destruídas com a mesma facilidade de um chute mal dado. Um boato, uma manchete tendenciosa ou um vídeo editado são suficientes para apagar anos de dedicação. Ídolos são criados e queimados em semanas — quando não em dias. No futebol, assim como na política, nas empresas e nas redes sociais, quem hoje é herói, amanhã é o responsável por tudo. O julgamento é sumário. A sentença, implacável.

As promessas então, viram fumaça. Contratos renovados com pompa, projetos ousados de gestão e juras de fidelidade à camisa ou à torcida desaparecem diante de uma sequência ruim. O imediatismo tornou a palavra “planejamento” quase utópica. Se não der resultado em três jogos, troca-se o treinador. Se o dirigente não agrada no primeiro mês, pede-se renúncia. O tempo virou inimigo da coerência.

A violência, por sua vez, é cada vez mais relativizada. Jogadas desleais são vistas como “garra”. Agressões viram “excesso de vontade”. Torcedores violentos são “apaixonados”. A linha entre competitividade e brutalidade é borrada em nome do espetáculo. E não é diferente na sociedade, onde o debate virou grito, e a discordância virou agressão.

Vivemos uma era em que o resultado justifica qualquer meio. Mas será que vale tudo por uma vitória? Será que os três pontos — essa obsessão semanal — podem mesmo servir de desculpa para a perda de noções básicas de respeito, paciência e humanidade?

No futebol e na vida, é hora de repensar se estamos dispostos a continuar jogando esse jogo — em que vencer custa caro demais.

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